Úlcera do estômago e duodeno
Uma úlcera é uma perda de substância, uma solução de
continuidade, uma ferida. A úlcera do estômago e do
duodeno é, geralmente, redonda ou oval com cerca de 5 -
10 mm de diâmetro. A base é constituida por fibrina o que
lhe dá uma cor esbranquiçada. A úlcera do duodeno atinge
cerca de 10% da população ocidental. A do estômago é
menos frequente
Embora a úlcera do estômago e duodeno tenham algumas
diferenças são, quase sempre, descritas em conjunto.
QUAL A CAUSA DAS ÚLCERAS?
Úlcera do duodeno
Deve-se ao aumento de factores agressivos que levam ao
aumento da secreção ácida:
•
Helicobacter pylori - é o factor fundamental presente em
mais de 95% dos casos.
•
AINE (anti-inflamatórios não esteróides) e ácido acetil
salicilico (aspirina)
•
factores genéticos
•
outros factores raros
Úlcera do estômago
Deve-se sobretudo à diminuição de factores defensivos. O
Helicobacter pylori está presente em menos de 70% dos
casos. Muitos casos aparecem associados aos AINE. Cerca de
10% são idiopáticas (de causa desconhecida)
A úlcera é uma perda de substância
como mostra esta figura esquemática
COMO SE MANIFESTA A ÚLCERA?
Úlcera do duodeno
A dor epiástrica aparece 1-3 horas depois das refeições e
durante a noite acalmando com os alimentos ou anti-ácidos. A
úlcera pode ser assintomática e diagnostica-se quando um
exame por outro motivo é feito ao estômago. As complicações
podem modificar as características da dor e trazer novos
sintomas, assim: se aparecem vómitos é de suspeitar que a
úlcera provocou uma obstrução do piloro. Se aparece
hemorragia com perda de sangue no vómito ou nas fezes é de
suspeitar que a úlcera sangrou. Se a dor é muito intensa talvez a
úlcera tenha perfurado para a cavidade peritoneal.
Úlcera do estômago
A dor epigástrica pode ser desencadeada pelos alimentos ou ser
agravada por eles e não desaparece totalmente com os anti-
ácidos. Muitas vezes a dor acompanha-se de náuseas, vómitos,
falta de apetite ou repugnância pelos alimentos
O Rx foi até ao aparecimento da
endoscopia a técnica usada para
diagnosticar as úlceras
Imagiologia Básica - João Pisco
COMO SE DIAGNOSTICA A ÚLCERA?
A endoscopia é a técnica de eleição. Permite a visão directa da úlcera e
permite a biopsia. A úlcera do estômago é biopsada para excluir e
existência de células malignas. O antro deve ser biopsado na úlcera do
duodeno e do estômago para se pesquisar o Helicobacter pylori.
O Rx foi utilizado no diagnóstico da úlcera durante mais de meio século
e detecta cerca de 70% das úlceras do estômago e 80% das duodenais.
O diagnóstico de úlcera do estômago pelo Rx obriga a fazer endoscopia
para a biopsar.
QUAIS AS COMPLICAÇÕES DA ÚLCERA?
•
hemorragia
•
perfuração
•
obstrução do piloro
Úlcera do estômago com vaso visível
Imagem de GASTROLAB
TRATAMENTO MÉDICO
No tratamento da úlcera do estômago e do duodeno além
da erradicação do Helicobacter pylori poderão
eventualmente utilizam-se os seguintes medicamentos:
•
IBP: omeprazol, pantoprazol, lanzoprazol, rabeprazol
e esomeprazol
•
H2RA: cimetidina, ranitidina, famotidina
•
anti-ácidos: há mais de uma centena
•
protectores gástricos: sucralfato
•
análogos das prostaglandinas: misoprostol
A erradicação do Helicobacter pylori, que hoje constitui a base do tratamento, e na maior parte dos casos da cura da
úlcera, faz-se com a terapêutica tripla:
anti-secretor + antibiótico + antibiótico. O tempo de tratamento é 1 ou 2 semanas.
Na úlcera do estômago deve fazer-se nova endoscopia e eventualmente nova biopsia 4 a 6 semanas depois do
diagnóstico para confirmar a benignidade da úlcera. Na úlcera do duodeno esse controle é inútil.
TRATAMENTO CIRÚRGICO E ENDOSCÓPICO
Até ao aparecimento dos antisecretores e descoberta do
Helicobacter pylori o tratamento cirúrgico da úlcera era
frequente. Hoje é uma raridade. A cirurgia apenas se
utiliza nas úlceras perfuradas. A maior parte das
hemorragias resolvem-se endoscopicamente assim
como as estenoses.
Ver “estômago operado”
Úlcera do estômago com
coágulo
Após lavagem do coágulo
aplicaram-se 2 clips. Não houve
nova hemorragia
De: David M. Martin, M.D.
SÍNDROME DE ZOLLINGER-ELLISON
Em 1955, Robert Zollinger e Edwin Ellison, dois americanos da universidade de Ohio descreveram 2 casos com
úlceras do jejuno associadas a um tumor do pâncreas.
Estes raros tumores produtores de gastrina (gastrinomas) localizam-se sobretudo no duodeno e no pâncreas. São
tumores neuro-endócrinos de baixa malignidade. A gastrina que produzem é uma hormona que estimula as células
parietais do estômago a produzir grande quantidade de ácido cloridrico e, em consequência, aparecem úlceras no
duodeno e jejuno.
Mucosa
Submucosa
Muscular
ÚLCERA
ESTÔMAGO