Litíase das vias biliares
A ecografia mostra que entre 10 a 15% da população mundial tem
pedras na vesícula (litíase da vesícula e calculose da vesícula são
maneiras diferentes de dizer a mesma coisa, litus em latim significa
rocha e calculus em latim significa pedra pequena).
Cerca de 85% das pessoas com pedras na vesícula não têm
sintomas ( litíase assintomática ) e não necessitam de tratamento.
Se as pedras causarem cólicas repetidas a vesícula com as pedras
deve ser tirada pelo cirurgião. Esta cirurgia chama-se
colecistectomia.
Por vezes, a vesícula com cálculos inflama (colecistite aguda) e
a cirurgia pode ter que ser feita de urgência. Se a pedra sai da
vesícula e se encrava no canal colédoco dá origem a uma
coledocolitiase que pode causar pancreatite ou colangite.
PORQUE SE FORMAM PEDRAS NA VESÍCULA?
A maior parte (75%) dos cálculos são constituídos por colesterol e são transparentes ao Rx, uma minoria são
constituídos por bilirrubinato de cálcio e são opacos ao Rx. A alteração do balanço entre os três principais
constituintes da bílis – colesterol, fosfolípidos e sais biliares – leva à precipitação de cristais de colesterol que
proporcionam o núcleo para a formação de cálculos na vesícula. Outros factores como alterações do esvaziamento
da vesícula e factores genéticos podem precipitar a formação de cálculos.
A importância dos factores genéticos é posta em evidência nos Índios Pimma dos EUA: aos 25 anos de idade
75% das mulheres Pimma têm cálculos na vesícula.
COMO SE MANIFESTAM OS CÁLCULOS DA VESÍCULA E VIAS BILIARES?
Na maior parte dos casos a litíase da vesícula é descoberta por acaso, porque se fez uma ecografia motivada por
sintomas que nada têm a ver com a vesícula:
- porque se tem azia ou regurgitação causada pela Doença do Refluxo Gastro-esofágico
- porque se tem dificuldade em fazer a digestão ou náuseas ou vómitos ou dor do estômago ou enfartamento
causados pela Dispepsia Funcional
- porque se tem dor na parte alta do abdómen causada por úlcera do estômago ou úlcera duodeno
- porque se tem dor no abdómen ou distensão ou diarreia ou obstipação relacionada com o Síndrome do Intestino
Irritável.
Quando a ecografia feita por estes motivos mostra pedras na vesícula e é indevidamente operada, os sintomas
geralmente reaparecem depois da operação porque, a causa dos sintomas,era uma doença do esófago ou do
estômago ou do intestino e não as pedras da vesícula.
A cólica biliar geralmente localiza-se na parte alta e direita do abdómen e persiste durante algumas horas. A
dor continua e diária na parte alta do abdómen é, pouco provável, que seja causada pela litíase.
Cálculo no coledoco
Duodeno
Cálculo obstruindo
o coledoco e canal pancreático
Cálculos na vesícula
COMO SE FAZ O DIAGNÓSTICO DA LITÍASE?
A ecografia (ultra-sonografia) é a técnica mais utilizada no
diagnóstico da litíase das vias biliares e é particularmente eficaz
na litíase da vesícula com uma acuidade superior a 95%. Na
litíase do colédoco a TAC é o melhor método para fazer o
diagnóstico.
A Colecistografia oral tem hoje indicações limitadas.
Além das técnicas de imagem as análises ao sangue são
indispensáveis na clarificação do diagnóstico.
COMO SE TRATAM DOS CÁLCULOS DA VESÍCULA E VIAS
BILIARES?
Na maior parte dos casos as pedras da vesícula são
assintomáticas e não necessitam de qualquer tratamento.
São evidentes as 4 pedras na vsícula e
os respectivos cones de sombra.
1-Tratamentos não cirúrgicos
Dissolução com ácido ursodesoxicólico: A dissolução dos cálculos da vesícula é pouco eficaz e por
isso é pouco utilizada. Só os cálculos de colesterol (transparentes ao RX) de pequenas dimensões, em vesículas
funcionantes, é que respondem aos dissolventes. São necessários vários meses de tratamento. Uma vez
conseguida a dissolução e terminado o tratamento os cálculos voltam a formar-se. Por tudo isto, a dissolução
dos cálculos tem indicações muito restritas.
Litotricia: os cálculos são fragmentados com litotritores através de ondas de choque. O sucesso da
técnica depende de várias factores (cálculos pequenos, número de ondas de choque, terapêutica adjuvante com
ácido ursodesoxicólico etc.). Como a vesícula não é tirada, 7% das pessoas ao fim de um ano já tem cálculos e
30% ao fim de 5 anos. Também as indicações desta técnica são restritas.
2 - Tratamento cirúrgico dos cálculos da vesícula
Colecistectomia: A primeira colecistectomia foi feita em 1882.
Seria um erro tirar os cálculos e deixar a vesícula. Pouco tempo depois a vesícula tinha novamente cálculos. Por
isso o cirurgião quer utilize a técnica clássica quer utilize a recente técnica laparoscópica ( realizada em Portugal
desde 1991 ) faz sempre uma colecistectomia - tira a vesícula com as pedras.
A vesícula é indispensável para o organismo?: Não. Depois de tirada a vesícula os canais biliares adaptam-
se e o esfíncter de Oddi regula a saída da bílis para o intestino. Pode viver-se, sem vesícula, sem que isso traga
qualquer inconveniente.
Complicações dos cálculos da vesícula: Colecistite e Coledocolitiase
Colecistite quer dizer inflamação da vesícula. Na colecistite aguda a dor pode ser acompanhada de náuseas e
vómitos. A análise ao sangue mostra um aumento dos glóbulos brancos. A colecistite aguda sem ser causada por
cálculos (Colecistite Acalculosa) pode acontecer mas é pouco frequente.
Colecocolitiase quer dizer que há um ou mais cálculos no colédoco, como mostra a primeira imagem desta
página. Quando o cálculo atravessa o canal cístico e atinge o colédoco (coledocolitiase) pode não causar
sintomas, pode causar dor, pode provocar icterícia e, se houver evolução para infecção (colangite) aparece febre.
O cálculo também pode ficar livre no colédoco, sem ficar encravado, e causar icterícia intermitente. Mas o cálculo
também pode atravessar o colédoco e atingir o intestino delgado sem causaralterações, ou causar apenas
ligeiros sintomas e ligeiras alterações bioquímicas, ou pode causar pancreatite ou, pode até acontecer que o
cálculo depois de passar o colédoco vá obstruir o intestino delgado ou saia livremente pelo ânus. Compreende-se
do que fica dito que, é possível, a um cálculo que estava na vesícula desaparecer sem dar-mos por isso:
atravessa o cístico, o colédoco, entra no intestino e sai com as fezes. Alguns "chás miraculosos" é assim que
"desfazem" miraculosamente os cálculos!!!
Tratamento das complicações da litiase:
Colecistite aguda - o ideal é realizar a operação durante o internamento hospitalar e não guardar para
depois.
Colecistite crónica com cólica biliar típica - Colecistectomia
Coledocolitiase - CPRE e esfincterotomia: A esfincterotomia foi introduzida em 1974 e tornou-se no método
de escolha da litíase da via biliar principal (colédoco).
Se o doente tem cálculos na vesícula e no colédoco faz-se esfincterotomia e depois colecistectomia.
A CPRE e esfincterotomia é realizada há anos no Serviço de Gastrenterologia do Hospital Distrital de Faro por
médicos e enfermeiros treinados nesta técnica.