O corpo humano é constituído por milhões de células. As células tornam-se complexas para formarem os tecidos:
epitelial, conjuntivo, muscular e nervoso. Os tecidos constituem os órgãos: rins, ovários, estômago, fígado, cérebro,
pulmões, tiróide etc etc... Cada órgão tem uma actividade própria. O conjunto dos órgãos que asseguram a mesma
função constituem um aparelho ou sistema: nervoso, endócrino, esquelético, muscular, tegumentar, reprodutor,
urinário, digestivo, respiratório, linfático e
cardiovascular.
ANATOMIA DO APARELHO DIGESTIVO
•
TUBO DIGESTIVO
o
Esófago
o
Estômago
o
Intestino Delgado: duodeno, jejuno, íleo
o
Intestino Grosso: cólon, recto
o
Ânus
•
ÓRGÃOS ACESSÓRIOS
o
Boca - dentes, língua
o
Glândulas salivares
o
Fígado
o
Via Biliar
o
Pâncreas
Da boca ao ânus o tubo digestivo tem, no adulto, cerca de 9 m e, atravessa 3 cavidades: cavidade torácica,
cavidade abdominal e cavidade pélvica. O intestino delgado é assim chamado porque o seu diâmetro tem em média
3 cm e o intestino grosso tem em média 7 cm. Algumas regiões do Aparelho Digestivo são separadas por
espessamentos musculares chamados esfíncteres. Estes esfíncteres abrem e fecham automaticamente (são
inervados pelo sistema nervoso autónomo) para permitir ou impedir a
passagem do conteúdo duma região para a outra. Apenas o esfíncter anal
depende da nossa vontade (é inervado pelo SNC). Um esfíncter não é
uma válvula. No tubo digestivo humano, não há válvulas, como há no
coração. A tradicionalmente chamada válvula ileocecal é no homem um
esfíncter muscular.
•
EES - esfíncter esofágico superior - separa a faringe do esófago
•
EEI - esfíncter esofágico inferior - separa o esófago do estômago
•
Piloro - separa o estômago do duodeno
•
Esfíncter de Oddi - separa o canal biliar comum do duodeno
•
Válvula ileocecal - separa o íleo do cego
•
Esfíncter anal - separa o recto do ânus
O músculo diafragma separa a cavidade torácica da cavidade abdominal.
O peritoneu é uma dupla membrana dentro da cavidade
abdominal. Uma das membranas, chamada visceral, cobre o
intestino e os outros órgãos da cavidade, a outra membrana
chamada parietal cobre a superfície interna da cavidade
abdominal e pélvica, assim como a superfície inferior do
diafragma. Entre estas duas membranas existe um líquido
lubrificante (cerca de 50 ml) que evita a fricção.
Alguns órgãos do abdómen estão atrás do peritoneu como
acontece com os rins, cólon ascendente, cólon descendente
e, acontece com quase todo o duodeno, com quase todo o
pâncreas e com parte de recto, são órgãos retroperitoneais.
Outros órgãos são completamente envolvidos pelo folheto
visceral como acontece com o fígado, estômago, jejuno,
íleo, cólon transverso, cólon sigmóide, são órgão
intraperitoneais.
O peritoneu forma pedículos por onde correm os vasos e os
nervos que segundo os casos se chamam: meso, epiplon
e ligamento.
Parede do tubo digestivo:
(É constituída por 4 camadas com estrutura diferente de órgão para órgão)
1.
Mucosa
o
epitélio
o
lamina própria (tecido conjuntivo)
o
muscularis mucosae (tecido muscular liso)
2.
Submucosa (tecido conjuntivo)
3.
Muscular (tecido muscular estriado: circular+longitudinal +
obliqua no estômago)
4. Adventícia ou serosa (tecido conjuntivo)
Artérias:
•
tronco celíaco
•
artéria mesentérica superior
•
artéria mesentérica inferior
Veias:
•
veia esplénica
•
veia mesentérica superior
•
veia mesentérica inferior
•
veia porta
•
veia hepática
Linfáticos
A linfa é um fluido derivado do plasma que contem nutrientes, oxigénio e
transporta linfócitos e anticorpos que lutam contra a infecção. Nos
linfáticos do intestino a linfa tem aspecto leitoso devido à riqueza em
ácidos gordos. Os linfáticos e gânglios intestinais drenam para canais
maiores até aos linfáticos e gânglios para-aorticos e finalmente cisterna do
quilo ou cisterna de Pecquet (Jean Pecquet médico francês 1622-1674)
Nervos
•
Sistema nervoso entérico
o
plexo submucoso
o
plexo mientérico
•
Sistema simpático
•
Sistema parassimpático
O tubo digestivo tem um sistema nervoso entérico
que funciona sem necessidade de qualquer ligação.
Localizado na submucosa (plexo submucoso ou de
Meissner - médico alemão 1829-1905) estimula a
secreção de muco e as contracções da muscularis
mucosae e na muscular (plexo mientérico ou de
Auerbach - médico alemão 1862-1897) é sobretudo
responsável pelas movimentos peristálticos
desencadeados pela contracção da muscular.
Embora independente o plexo entérico recebe
impulsos do sistema nervoso autónomo (simpático e
parassimpático) formando o eixo intestino-
cérebro (gut-braim axis) a que cada vez se dá maior importância. Ver afecções funcionais
FUNÇÕES DO APARELHO DIGESTIVO:
1.
FUNÇÕES PRINCIPAIS
•
Digestão - as grandes moléculas alimentares são partidas em subunidades por meios físicos (mecânicos) e
químicos, para depois serem absorvidas
•
Absorção - os produtos finais da digestão são absorvidos através da parede do tubo digestivo e, entram na
corrente sanguínea e, na corrente linfática que os distribuem pelo corpo.
2. FUNÇÕES COMPLEMENTARES
•
Ingestão - introdução dos alimentos na boca
•
Mastigação - triturar e misturar os alimentos com a saliva
•
Deglutição - engolir os alimentos
•
Motilidade - (peristaltismo e segmentação) movimentos rítmicos de vai vem
•
Secreção - secreções exócrina (água, ácido clorídrico, bicarbonato, enzimas) e endócrinas (hormonas)
•
Imunologia - protecção feita pela mucosa e células do sistema imune
•
Flora intestinal (microbiota)
•
Defecação
A principal função do aparelho digestivo é proporcionar ao organismo a hidratação, os nutrientes e a energia de que
necessita. A sua obtenção consegue-se com líquidos e alimentos, através da digestão e da absorção.
Nós ingerimos grandes moléculas de alimentos -polimeros- que têm que ser partidas em subunidades -monomeros-
que podem atravessar a camada mais interna do intestino delgado, a mucosa, para entrarem na corrente sanguínea
ou na corrente linfática, num processo chamado absorção.
A digestão é a transformação mecânica e química dos alimentos, de maneira a poderem ser absorvidos. Essas
transformações físicas e químicas começam na boca onde os alimentos são mastigados e misturados com a enzima
ptialina da saliva que desdobra o amido. Este bolo alimentar formado na boca é deglutido e, passa á faringe. Entra
no esófago e pela acção dos movimentos peristálticos o bolo alimentar passa ao estômago.
No estômago os alimentos são triturados pelos movimentos peristálticos e misturados com o suco gástrico
transformando-se em quimo. Durante 2 1/2 a 3 horas os alimentos permanecem no estômago.
O quimo passa o piloro e durante a passagem pelo duodeno o seu pH ácido torna-se alcalino pela acção de
bicarbonato vindo do pâncreas e, sofre a acção dos enzimas pancreáticos (amilase, lipase, tripsinogénio, nucleases)
e intestinais (peptidases, lactase…) que irão decompor ainda mais a massa alimentar, que se transforma em quilo.
A maior parte da acção enzimática da digestão faz-se no intestino delgado onde são absorvidos os hidratos de
carbono, as proteínas e as gorduras.
Pelo efeito dos movimentos peristálticos do intestino delgado, o quilo vai sendo empurrado em direcção ao intestino
grosso, enquanto vai ocorrendo a absorção. A parte do quilo que não é absorvida é, finalmente, evacuada pelo ânus
sob a forma de fezes.
Os hidratos de carbono ou glícidos ou glúcidos ( a maioria são o amido, a sacarose e a lactose) são inicialmente
digeridos pela amilase salivar e pancreática, mas a digestão completa requer três enzimas (lactase, maltase e
sacarase) existentes nas células da mucosa do intestino. Estas enzimas desdobram os dissacáridos em
monossacáridos porque só nesta forma podem ser absorvidos. A nossa mucosa intestinal não absorve dissacáridos,
por isso, utilizamos a lactulose, como laxante osmótico, no tratamento da prisão de ventre. Alguns hidratos de
carbono mais complexos, que constituem a fibra da nossa dieta são mal digeridos no Intestino Delgado e atingem o
Cólon onde são fermentados pelas bactérias dando origem à formação de gazes.
A digestão das gorduras, dos ácidos núcleicos e das proteínas que se iniciou com a lipase e com a pepsina do
estômago continua no lume do Intestino Delgado com as enzimas produzidas no Pâncreas (lipase, fosfolipase,
tripsina, quimotripsina, carboxipeptidase, DNase e RNase).
A digestão das gorduras requer a sua emulsão, transformação em pequenas gotas, sobre as quais actuam as
enzimas, levando à formação de ácidos gordos, vitaminas lipossolúveis, colesterol que os sais biliares transformam
em micelas que são absorvidas pelo Intestino Delgado. As proteínas são degradadas em ácidos aminados que
atravessam o epitélio e entram na corrente sanguínea.
O intestino delgado é, por excelência, o local da absorção dos nutrientes que nos fornecem as calorias de que
necessitamos para viver. Para facilitar essa absorção o intestino delgado tem uma estrutura que lhe dá uma enorme
superfície de 250 m2
A absorção consiste no deslocamento dos nutrientes e outros compostos por transporte activo ou difusão do lume do
intestino delgado até ao meio interno.
A motilidade do tubo digestivo impulsiona a progressão dos alimentos e líquidos desde a boca até ao ânus. O
sistema nervoso entérico através do plexo mientérico e submucoso regulam os movimentos gerais e de cada órgão.
Também o sistema nervoso autónomo parasimpático e simpático influenciam a actividade motora estimulando-a ou
inibindo-a.
As secreções gastrointestinais libertam cerca de 7 litros de líquido por dia, dos quais, apenas 100 a 200 ml saem
nas fezes. O restante é novamente absorvido no intestino delgado e grosso. As secreções são saliva, muco, água,
electrólitos, enzimas, ácido clorídrico, factor intrínseco…As secreções são estimuladas ou inibidas por vários factores
mas, sobretudo, pelo sistema nervoso autónomo.
As enzimas segregadas pelo aparelho digestivo são indispensáveis á digestão e absorção dos nutrientes. As
enzimas são catalisadores, isto é modificam a velocidade da reacção química. Desde a antiguidade que sabemos o
fermento transforma o açúcar em álcool (chamamos a isso fermentação - en+zima=no fermento). A maior parte das
enzimas são proteínas.
Região
Secreção não enzimática
Secreção enzimática
Nutriente digerido
Boca
saliva: muco,agua, sódio
amilase
hidratos de carbono
lipase
gorduras
Esófago
muco
nada
nada
Estômago
muco, ácido clorídrico
pepsina
proteínas
factor intrínseco
lipase
gorduras
I. delgado
água, muco, sais
peptidases
proteínas
Pâncreas
Líquido pancreático:bicarbonato
amilase
hidratos de carbono
lipase
gorduras
trpsinogénio, quimotripinogenio
e elastase
proteínas
nucleases
ácidos nucleicos
Fígado
bílis: água, sais biliares
nada
gorduras
I. grosso
muco
nada
fermentação dos
hidratos de carbono
pelas bactérias
Vários órgãos do tubo digestivo segregam hormonas. O tubo digestivo é o órgão endócrino maior do organismo. As
hormonas são substâncias segregadas pelas glândulas endócrinas e lançadas na corrente sanguínea para actuarem
sobre um alvo produzindo um efeito
Hormona
Local de produção Efeito
•
Gastrina
estômago e duodeno
Estimula a secreção ácida
•
Colecistoquinina
duodeno Estimula a contracção da vesícula
•
Secretina
duodeno e jejuno Estimula a secreção pancreática
•
VIP
nervos entéricos
•
GIP
duodeno
•
Gralina
(hormona da fome)
estômago
•
Motilina
duodeno
Estas hormonas lançadas na corrente sanguínea actuam no aparelho digestivo e noutras partes do corpo e algumas
têm uma função paracrina actuando nas células vizinhas.
Imunidade - Barreira luminal: ácido cloridrico no estômago, enzimas pancreáticos e sais biliares no intestino
delgado próximal
1.
Barreira epitelial
2.
Resposta imune inata: monócitos, macrófagos, mastócitos, basófilos
3.
Folículos linfoides e placas de Peyer (cerca de 100 no homem, localizadas no íleo) constituem os aglomerados
linfoides MALT (tecido linfoide associado à mucosa) e GALT (tecido linfoide associado ao tubo digestivo) - (John
Conrad Peyer médico Suiço 1653-1712)
4.
Linfócitos T
5.
Linfócitos B - efeito protector da IgA
6.
Microbiota intestinal
Linfócitos e monócitos estão difusamente presentes na mucosa e lamina própria assim como, no tecido linfoide e,
placas de Payer. Estes tecidos e células são capazes de distinguir entre organismos potencialmente patogénicos e
alimentos ou bactérias comensais.
Microbiota - quando nascemos o nosso tubo digestivo é estéril mas, a colonização bacteriana começa logo durante
o parto ou imediatamente depois. A flora intestinal (microbiota) num adulto saudável é constituída essencialmente
por bactérias e alguns fungos. Cerca de 1000 espécies de bactérias que pesam cerca 2 kg. Metade da massa fecal é
constituída por bactérias. O ácido clorídrico, a bílis e as secreções pancreáticas tornam o estômago e o intestino
proximal quase estéril.
A função principal desta comensal (associação de dois organismos em que um vive á custa do outro sem o
prejudicar) flora bacteriana é proteger o hospedeiro de outras bactérias agressivas. Competem com elas nos
nutrientes, impedem a sua ligação ao epitélio e estimulam as células do sistema imune. A microbiota intestinal
sintetiza vitaminas (ácido fólico) tiamina VitB12 e K), participa na digestão e absorção dos hidratos de carbono
(celulose, pectina) interfere no metabolismo dos sais biliares permitindo a circulação entero-hepática…
Com a defecação o tubo digestivo elimina os produtos não digeridos, restos da digestão que não são absorvidos.
As fezes são armazenadas na sigmóide. O recto habitualmente está vazio. Quando as fezes passam para a ampola
rectal, a pressão dentro do recto atinge 20 a 25 cm H2O e envia influxos nervosos para o cérebro sentimos então o
desejo de defecar. A contracção voluntária dos musculosos abdominais, a postura apropriada, o relaxamento
voluntário do esfíncter externo precedem o acto da defecação.
O reflexo gastrocólico é o desejo de defecar desencadeado pela distensão do estômago pelos alimentos.
RESUMO das PRINCIPAIS FUNÇÕES DO TUBO DIGESTIVO
Boca
ingestão dos alimentos, mastigação, inicio da digestão, deglutição
Faringe e esófago
propulsão
Estômago
trituração mecânica, digestão, absorção (quase nula).
Intestino delgado
trituração mecânica, digestão, absorção
Intestino grosso
absorção (no cólon direito), propulsão, defecação
fígado
funções de metabolismo, síntese, catabolismo, armazenamento,
vias biliares
armazenamento, concentração e transporte da bílis
pâncreas
secreção exócrina e endócrina
DOENÇAS MAIS FREQUENTES DO APARELHO DIGESTIVO
Muito frequentes:
doença do refluxo gastro-esofágico,
dispepsia funcional,
síndrome do intestino irritável,
Frequentes:
intolerância à lactose,
obstipação funcional,
diarreia funcional,
gastroenterite,
doença hemorroidária,
Doença diverticular do cólon
Pólipos do cólon
fissura do ânus,
proctalgia fugax,
fígado gordo não alcoólico,
cancro do cólon e do recto (CCR),
hepatite C,
cirrose alcoólica,
úlcera péptica
litíase da vesícula é frequente, mas geralmente é assintomática e não requer tratamento.
A gastrite crónica, a hérnia do hiato, os angiomas e pólipos do fígado são alterações muito frequentes mas quase
sempre assintomáticas e geralmente não requerem tratamento.
VACINAS:
vacina da hepatite A
vacina da hepatite B
RASTREIOS:
Rastreio do cancro do cólon e recto
O APARELHO DIGESTIVO - visão geral
Intestino delgado (esquema)
A função principal do intestino
delgado é a absorção. As vilosidades
aumentam a superfície de absorção.
A principal função do estômago
é mecânica. A absorção é quase nula:
não precisa de vilosidades.